sábado, 18 de setembro de 2010

UM PRESENTE PARA A PRIMA

Nota Prévia de Aviso aos Leitores: Em tempos, pensei em escrever uma série de histórias finalizadas, cada uma delas, com uma receita de culinária. Algumas ja estão prontas. São “estórias” sem história e as receitas apenas servem para lhe dar algum sentido. Direi que não é mais que uma brincadeira em torno do personagem por mim inventado a que dei o nome de João Serapico e que qualquer semelhança com pessoas ou factos será por mera coincidência.
Dito isto, passo a partilhar convosco uma dessas histórias


Um Presente para a Prima

Depois de almoçar os pi-pis, João Serapico, resolveu tirar o resto do dia por sua conta a prazo e risco ao meio. Estava farto de se pentear com risco ao lado. Iria portanto aproveitar ao máximo a boa disposição com que acordara.

Dirigiu-se ao banco do jardim mais próximo para levantar alguns contos de reis, não se importaria muito se fossem de fadas, porque, em questões de massa, só não gostava era da massinha de cotovelos. Mania que tinha, havia muito tempo, de embirrar com tudo o que fossem ângulos, curvas e esquinas porque, sempre que tentara e por mais esforço que fizesse, nunca conseguira dobrar a esquina duma rua, e isso marcava-o muito. E, além disso, sempre que se lhe deparava um ângulo havia de aparecer sempre aquela tipa chamada Bissectriz com quem ele tivera dois ou três casos, inflizmente fortuitos, o que lhe deixou sempre aquela dor de massinha de cotovelo.

Cacau no bolso, levava também o leite e o açúcar, ia prevenido para o lanche, copo não era preciso porque aproveitaria o primeiro copo d’água que encontrasse, resolveu João Serapico passar o resto da tarde deambulando pela cidade e as serras, talvez encontrasse o amigo Acácio.

Encontrou-o quando já caía a noite, porque, como ele tinha-se protegido na mesma estação de metro para evitar que lhes caisse em cima. E logo ali entabularam aceso diálogo. E tão aceso foi que a sua extinção só foi possível por decreto governamental. E isto porque ambos se lembraram de puxar de um cigarro e acendê-lo ao mesmo tempo.

Só depois de se certificarem que a noite já estava bem caida é que começaram a subir a escada da estação, com muito cuidado para não pisarem os pobres pedintes que por ali estendiam a mão à Caridade. E se já assim, coitados, a Caridade raramente lhes apertava a mão, quanto mais se tivessem os olhos pisados. Pensaria logo que eram uns malandros, que passavam as noites na farra. Pois olhos pisados so poderiam ser de noites mal passadas a ferro.

Já na rua João e Acácio decidiram ir jantar juntos e depois logo se veria.

Escolheram um restaurante médio atacante, tipo Selecção nacional onde optaram por comer uns carapaus de corrida. Sempre era uma maneira de se irem mantendo em forma e de tentar melhorar os tempos olímpicos. Vinho escolheram um da lista, ou melhor listas, verdes e brancas, porque, sempre que os dois amigos se encontravam, era com essa cor que costumavam pintar a manta. Saiu, portanto, um verde branco bem fresquinho.

Durante a refeição discutiram sobre diversos assuntos quer da política internacional em geral quer da nacional em particular abordando também os problemas futeblísticos que mais interessavam à nação.


Acabado que foi o jantar pediram a conta e pagaram as favas, o que os incomodou bastante, pois para além dos carapaus e do vinho apenas tinham comido umas azeitonas. “Que fossem à fava rica!”.

Sairam. Como ainda era muito cedo resolveram meter-se num cinema. Viram uma coisa ligeira que, apesar de ambos terem carta de pesados, sempre era mais cómodo.

À saida vinham acompanhados por duas pulgas que eles despacharam logo no primeiro cão que encontraram, tendo eles apanhado um taxi.

Já na rua é que João Serapico se lembrou que a prima Glória fazia anos no dia seguinte. Tinha de comprar qualquer coisa para lhe oferecer. Mas por causa das favas, que tiveram que pagar e não comeram, Serapico ficou quase sem dinheiro.

- Bem vê Amigo Acácio, é uma maçada, amanhã é sabado, os bancos estão fechados e o pouco dinheiro que tenho já não dá para comprar nada decente para oferecer à minha prima Glória que amanhã faz anos.
- E se com o pouco que nos resta, tentassemos a sorte no casino? – Alvitrou Acácio – Há dias de sorte!
- Talvez não fosse má ideia.

E foram.

No casino experimentaram o poker de cartas, mas só lhes saiam quadras de Natal, o que já estava bastante fora de época. Assim, João Serapico nao compraria o presente de anos à prima Glória.

Foi então que se lembrou e segredou a Acácio:

- E se levassemos a banca à Glória?
- Boa ideia - concordou Acácio – Talvez ela goste.

Eram três da manhã quando, pegando cada um de seu lado, saiam do casino e levavam a “Banca à Glória”.

Era já tarde quando João Serapico se levantou. Não dormira quase nada, só a pensar nas favas que tivera de pagar e que não comera . Ainda bem que mesmo ali em frente, do outro lado da rua existia uma velha tasca que fazia umas favinhas que eram de comer e chorar por mais.

Era isso mesmo. Iria até lá e comeria um pratinho de “Fava Rica”.


FAVA RICA

A fava rica é um alimento simples mas muito nutritivo.

A Fava Rica é preparada com favas secas.
Escolhem-se as favas rejeitando aquelas que tiverem gorgulho e põem-se de molho em água e sal de um dia para o outro. Assim amolecidas põem-se ao lume a ferver com água e sal até que fiquem tão macias de modo a poderem ser esmagadas com um garfo.

Servem-se temperadas com bom azeite e alho cortado muito miudo.






Este Belo Prato de favas surripiei-o eu do Blog Vilarandelo - Um dia uma Imagem gerido, e muito bem, pelo amigo Jose Coroado

1 comentário:

José Doutel Coroado disse...

Caro José,
bela "estória"...
e que apetite me fizeram os comeres e as favas...
abs