O PIMPÃO
Homem de muitas manhas e mil artimanhas que sempre queria estar bem com Deus e com o Diabo. Asdrúbal Teixeira Pimpão, de sua graça, era-o de nome e era-o também de facto, no bom sentido da fanfarronice.
Figura corpulenta, das mais altas da aldeia. Recordo-o de boina preta na cabeça, em cima do burro cinzento que sempre lhe conheci, pés metidos nos socos abertos quase a arrojar pelo chão e com a “Laika”, cadelinha amarela que devia o seu nome à homónima sua contemporânea que tinha viajado pelo espaço, em pé à sua frente também ela em cima do quadrúpede.
Não havia acontecimento local ou mesmo mundial qua não fosse por ele glosado para còmicamente o retratar. Assim como não havia novidade que não fosse, por ele, dada em primeira mão, a maior parte das vezes aumentada de “quilómetros” em relação à verdade. Por isso costumava até dizer-se aos que mentiam: “És mais aldrabão que o Pimpão!” Não sei se a expressão ainda hoje se usa mas, se se deixou de usar, não será por falta de mentirosos, concerteza.
Nos dias dos Santos Polpulares, no mês de Junho, a rapaziada que passava pela Capela de São Sebastião não se abstinha de dar umas badaladas na sineta da mesma, bastava que, para isso, conseguisse chegar à gramalheira e tivesse força para a accionar. Tal facto já fazia parte dos usos e costumes e, por isso, ninguém levava a mal tal coisa. Havia, porém, alguns adultos que também eram fieis a hábitos como este e que, por isso, eram dele assíduos praticantes.
O nosso amigo Pimpão era um, dentre os mais velhos, que, para além da rapaziada, não se coibia de dar, também ele, umas boas badaladas bem repenicadas. E para que lhe haveria de dar, certa vez, para gáudio de muitos especialmente da pequenada?
Lembrou-se então ele de botar um molho de erva à porta do Santo, rédea do jerico presa à gramalheira e “dlin-dlão, dlin-dlão...” ao ritmo do abocanhar da erva fresca pelo animal, ia tocando o sino no campanário da capela.
Outra usança das mesmas festividades era o ir de alguns “malandros” pela calada da noite à procura de vasos floridos pelas varandas e parapeitos das janelas e muito silenciosamente os surripiarem e, com todo o cuidado para não os estragar, os trazerem para as escadas da mesma Capela de São Sebastião onde na manhã seguinte as donas de tais vasos os iriam recuperar. (O mesmo acontecia noutros bairros pois que me lembro de também os ver expostos nas escadas da Igreja).
“Ora uma vez, era São joão, aí pelo meio da tarde encontrei o Pimpão perto da bica do Bairro do Outeiro onde viera dar de beber ao burro, devia andar eu pelos meus quinze ou dezasseis anos e diz-me ele:
“Logo à noite queres vir ajudar-me a fazer um serviço?”
“Humm...?”
“Ja marquei aí uns vasos e logo vamos buscá-los ali prá escada da capela”
“Está bem” – respondi-lhe.
“Então lá prá meia-noite vamos a eles, e quando vieres trazes já um de tua casa.”
E assim foi. Pela calada da noite saia eu de casa, sem fazer barulho, com um vaso bem florido e que foi o primeiro, naquele ano, a enfeitar a escada da Capela de São Sebastião a que se seguiram outros mais, marcados que tinham sido durante o dia e que agora era só ir buscá-los.
Nunca minha mãe chegou a perceber como é que tendo ela tirado todos os vasos da varanda se tinha esquecido daquele que ainda por cima era dos mais bonitos.
“Vá lá que não o estragaram!” - Dizia.
Homem de muitas manhas e mil artimanhas que sempre queria estar bem com Deus e com o Diabo. Asdrúbal Teixeira Pimpão, de sua graça, era-o de nome e era-o também de facto, no bom sentido da fanfarronice.
Figura corpulenta, das mais altas da aldeia. Recordo-o de boina preta na cabeça, em cima do burro cinzento que sempre lhe conheci, pés metidos nos socos abertos quase a arrojar pelo chão e com a “Laika”, cadelinha amarela que devia o seu nome à homónima sua contemporânea que tinha viajado pelo espaço, em pé à sua frente também ela em cima do quadrúpede.
Não havia acontecimento local ou mesmo mundial qua não fosse por ele glosado para còmicamente o retratar. Assim como não havia novidade que não fosse, por ele, dada em primeira mão, a maior parte das vezes aumentada de “quilómetros” em relação à verdade. Por isso costumava até dizer-se aos que mentiam: “És mais aldrabão que o Pimpão!” Não sei se a expressão ainda hoje se usa mas, se se deixou de usar, não será por falta de mentirosos, concerteza.
Nos dias dos Santos Polpulares, no mês de Junho, a rapaziada que passava pela Capela de São Sebastião não se abstinha de dar umas badaladas na sineta da mesma, bastava que, para isso, conseguisse chegar à gramalheira e tivesse força para a accionar. Tal facto já fazia parte dos usos e costumes e, por isso, ninguém levava a mal tal coisa. Havia, porém, alguns adultos que também eram fieis a hábitos como este e que, por isso, eram dele assíduos praticantes.
O nosso amigo Pimpão era um, dentre os mais velhos, que, para além da rapaziada, não se coibia de dar, também ele, umas boas badaladas bem repenicadas. E para que lhe haveria de dar, certa vez, para gáudio de muitos especialmente da pequenada?
Lembrou-se então ele de botar um molho de erva à porta do Santo, rédea do jerico presa à gramalheira e “dlin-dlão, dlin-dlão...” ao ritmo do abocanhar da erva fresca pelo animal, ia tocando o sino no campanário da capela.
Outra usança das mesmas festividades era o ir de alguns “malandros” pela calada da noite à procura de vasos floridos pelas varandas e parapeitos das janelas e muito silenciosamente os surripiarem e, com todo o cuidado para não os estragar, os trazerem para as escadas da mesma Capela de São Sebastião onde na manhã seguinte as donas de tais vasos os iriam recuperar. (O mesmo acontecia noutros bairros pois que me lembro de também os ver expostos nas escadas da Igreja).
“Ora uma vez, era São joão, aí pelo meio da tarde encontrei o Pimpão perto da bica do Bairro do Outeiro onde viera dar de beber ao burro, devia andar eu pelos meus quinze ou dezasseis anos e diz-me ele:
“Logo à noite queres vir ajudar-me a fazer um serviço?”
“Humm...?”
“Ja marquei aí uns vasos e logo vamos buscá-los ali prá escada da capela”
“Está bem” – respondi-lhe.
“Então lá prá meia-noite vamos a eles, e quando vieres trazes já um de tua casa.”
E assim foi. Pela calada da noite saia eu de casa, sem fazer barulho, com um vaso bem florido e que foi o primeiro, naquele ano, a enfeitar a escada da Capela de São Sebastião a que se seguiram outros mais, marcados que tinham sido durante o dia e que agora era só ir buscá-los.
Nunca minha mãe chegou a perceber como é que tendo ela tirado todos os vasos da varanda se tinha esquecido daquele que ainda por cima era dos mais bonitos.
“Vá lá que não o estragaram!” - Dizia.
1 comentário:
Caro José,
folgo em ver que Vossa Senhoria voltou às lides artísticas.
e que bem voltaste...
mais um texto que pode entrar no Arauto.
se concordares manda mail para mim ou directo para ARAUTO:
arauto2005@gmail.com
abs
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